Audiência proposta pelo Sindicato Rural de Dourados debate formas de preservar a safra do milho em MS
Para evitar problemas graves de impactos nas lavouras, oriundos do chamado milho voluntário, também denominado de planta guaxa ou tiguera, considerada uma planta daninha que precisa ser controlada, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) realizou nesta terça-feira (11), a audiência pública com o tema “A importância da eliminação do milho guaxo na produção agrícola de Mato Grosso do Sul”. O evento foi uma indicação do Sindicato Rural de Dourados.
Proposto pelo deputado estadual Renato Câmara (MDB), o encontro foi realizada no Plenarinho Deputado Nelito Câmara com a participação de representantes de sindicatos rurais, associações, cooperativas, comerciantes, consultores, lideranças do setor produtivo, além da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Dourados) e Governo do Estado.
De acordo com o parlamentar, a iniciativa do debate surgiu por meio do Sindicato Rural de Dourados. “Esse é um tema muito específico de quem produz milho e soja e representa uma demanda dos sindicatos e produtores rurais, que buscam dentro desta discussão apoio para aprofundar conhecimento neste sentido e propor ações que possam diminuir os efeitos do milho guaxo, que é um problema presente nas produções do nosso Estado”, explica o parlamentar. Ele reforça que a cada ano o assunto vem tomando proporções maiores. “Então precisamos discutir e encaminhar ações governamentais para diminuir o problema. É importante trazemos pesquisadores da Embrapa que falam e apresentam casos concretos”, pontuou Renato Câmara.
Presente no evento, o presidente do Sindicato Rural de Dourados, Ângelo Cesar Ajala Ximenes, enfatizou a parceria com o Legislativo Estadual para debater o assunto. “A Assembleia Legislativa pode nos ajudar com medidas paliativas de conscientização para alertar o produtor, pois o milho guaxo passou a ser algo de segurança para a produção do nosso Estado, pois quando chega a segunda safra causa diversas doenças que podem ser incontroláveis”, argumentou.
O engenheiro agrônomo e especialista na cultura do milho, Paulo Roberto Garollo, ministrou a palestra “Manejo da cigarrinha do milho e do complexo de enfezamento”. Ele explanou sobre os dez primeiros passos, um em seguida do outro, para o bom manejo e controle da cigarrinha do milho. “Este tema é bastante amplo e de extrema importância e que está focado no ministério da agricultura. O primeiro passo é o manejo do milho voluntário - que é qualquer planta de milho que nasce fora de uma área de cultivo de milho. Principalmente na região do Centro-Oeste é o milho que nasce no meio da soja que é cultivada no primeiro plantio, de primeira safra, ou plantio de verão. Então essas plantas precisam ser mais observadas porque o manejo é imprescindível e é o primeiro passo no manejo da cigarrinha”, iniciou o palestrante.
No decorrer de sua apresentação, o pesquisador elencou sobre qual e o melhor momento de fazer o manejo do milho voluntário, bem como o controle e os principais produtos para utilizar. “No processo de transmissão das cigarrinhas, os agentes causais sobrevivem nas plantas vivas. Com o milho guaxo é muito pior, não só por manter a espécie da praga, mas por manter os agentes causais, através de plantas vivas. Vejam o impacto que isso pode causar dentro de um sistema agrícola, dificultando assim o manejo da cigarrinha. Então, qual é o momento de se fazer o manejo? Quando estamos com a maioria das plantas em estádio fenológico de quatro folhas (V4). É neste momento que é necessário controlar para a cigarrinha não proliferar, pois ela pode sobreviver até seis semanas sem se alimentar”, lembrou o agrônomo, mostrando a importância da contagem de número de folhas.
Ele também sinalizou sobre o manejo químico e os principais herbicidas de milho voluntário, respeitando o momento correto da aplicação, além da boa regulagem da máquina. Ele mostrou que os recursos e os produtos destinados para isso existem e os agricultores precisam aplicar para evitar a perda de parte de espigas ou grão. O especialista na cultura do milho acrescentou que é essencial observar também a questão do transporte de grãos. “Muitas vezes não se nota o enlonamento ou se o caminhão de transporte está correto. Se algo estiver errado e neste momento chover, vai nascer o milho tiguera”, disse. Finalizando sua apresentação, Paulo Roberto Garollo mostrou a importância de se ter ações mais específicas para conter a praga, aumentar a produção da área e consequentemente iniciar com mecanismos de fiscalização e controle do milho tiguera.
Em seguida, a Fundação MS apresentou o Programa de Enfrentamento do Complexo de Viroses e Enfezamentos no Milho (Previne) concretizado pela entidade e parceiras, como Governo do Estado e Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS). O Diretor Executivo da entidade, representando o Sistema Famasul, Alex Marcel Melloto, comentou a relevância em trazer para a Assembleia Legislativa um pouco da ciência. “Já estamos na terceira safrinha de um programa exclusivo para estudar o complexo de enfezamento, como chamamos. Quero citar aqui que Mato Grosso do Sul é exemplo em proporcionar essa discussão em um ambiente institucional, onde conseguimos falar de maneira tão próxima”, reforçou.
O engenheiro agrônomo, professor doutor em produção vegetal e pesquisador de fitotecnia do milho da Fundação MS, André Luis Faleiros Lourenção, apresentou o programa, criado para ajudar o produtor rural a tomar as melhores decisões quanto ao manejo dos vetores e das doenças. Ele explicou como construíram o programa pensando na força da pesquisa e ferramentas para esta temática. “Dentro disso, o manejo do milho tiguera em meio à soja é um dos fatores principais deste programa. São três anos de desenvolvimento com várias linhas de pesquisa e baseado em pilares importantes desta doença. Estamos trazendo resultados mais robustos que o produtor rural vai, aos poucos, utilizando na sua atividade”, expôs.
A temática boas práticas para o manejo da cigarrinha do milho foi abordada pelo engenheiro agrônomo, professor PHD da Universidade Federal de Dourados e pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Crébio José Ávila. Ele mencionou sobre planejamento e as práticas para reduzir a população do vetor e inóculo dos enfezamentos. Ele também citou os enfezamentos do milho, os sintomas e a intensidade na fase reprodutiva, além dos danos causados à produção. O palestrante esclareceu o que fazer antes do plantio, na semeadura ou fase inicial e na colheita do milho.
De acordo com o representante do Governo do Estado, secretário executivo da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Rogério Thomithão Beretta, a audiência pública representa democratizar a informação e se fortalece com a presença de pesquisadores e técnicos renomados que trazem informações preciosas. “Nós do Governo do Estado temos um sistema de trabalho apoiado em câmaras setoriais e grupos técnicos específicos. Assim que estamos tratando a ocorrência da cigarrinha e enfezamento do milho desde 2020, quando aconteceu o primeiro sinal de alerta. Então estamos conduzindo por meio de um protocolo de pesquisas elaborado em parceria com instituições e liberando recursos através do nosso fundo do milho e da soja”, apontou.
O presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos da Grande Dourados (Aeagran), Rodrigo Elias de Oliveira, lembrou o quanto é importante o debate para a economia no ramo da cobertura de seguro agrícola. “Toda dificuldade de produção que as pragas trazem para as nossas lavouras acabam gerando desconto no momento que o produtor precisa de indenização”, salientou.
Com a mediação do engenheiro agrônomo e pesquisador da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), Eduardo Barreto Aguiar, foi realizada uma mesa redonda com participação dos presentes e palestrantes. Os encaminhamentos do evento serão transmitidos de forma oficial ao Governo do Estado.
*Com informações da ALEMS